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A
apenas cinco quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial da
presidência da República, hoje ocupada por Dilma Rousseff,
crianças e famílias moram em área invadida e sobrevivem do lixo. Do
local não é possível ver o Palácio da Alvorada. A presidente Dilma
tampouco pode vê-los em seu trajeto quase diário do Alvorada para o
Planalto, porque, apesar da invasão estar entre os dois prédios, Dilma
passar por uma grande avenida e a invasão fica longe dos olhos da
presidente.
Apesar
de estarem em área nobre da capital federal, na área do Plano Piloto,
as famílias da invasão se alimentam de restos de carne e qualquer outro
tipo de comida descartada pela população do Distrito Federal. A garotada
espera algum dia poder morar em uma casa e ter uma "vida decente".
A
matriarca da família, dona Francisca da Silva, de 62 anos, explica que
no local vivem pelo menos 36 pessoas entre filhos, genros, noras e
netos. Ela é viúva, o marido morreu há 20 anos de câncer.
— Todos moram aqui mesmo. Cada um se virou para construir seu barraco e vamos levando a vida da forma que é possível.
Eles
sobrevivem em uma área pública de aproximadamente quatro mil metros
quadrados perto da Vila Planalto, na área central de Brasília, e estão
no local há 25 anos.
R$ 200 por mês
Os
adultos trabalham recolhendo lixo das ruas, catando latinhas e papéis,
mas uma das filhas de dona Francisca, Rosa Maria Albino dos Santos, de
35 anos, explica que a renda total da família não passa dos R$ 200 por
mês.
—
Não ganhamos o suficiente para viver com dignidade e trabalhamos de
forma desumana, porque não temos oportunidade nem ajuda do Estado.
Dona
Francisca conta que a principal fonte de alimento, quando não consegue
aproveitar nada do lixo, são as mangas. Ela explicou que existem vários
pés por perto e aproveita ao máximo quando está na época da fruta.
—
As crianças sentem fome e não temos como ajudar, é uma situação
complicada que enfrentamos. Quando não é isso (magas) é o lixo mesmo.
Além
disso, dona Francisca relatou que uma outra grande ajuda é quando
caminhões de lixo, que não prestam serviços ao GDF (Governo do Distrito
Federal), jogam perto da invasão restos de alimentos, móveis e
utensílios descartados pelos moradores de áreas próximas. Para ela, é
uma ajuda sempre "muito bem vinda".
— Enquanto muita gente quer se livrar, nós gostamos quando eles aparecem.
Carne do lixo
Enquanto
a reportagem do R7 estava no local, um dos homens da casa, Elcaleno
Silva dos Santos, de 25 anos, apareceu com vários pedaços de carne. Ele
disse que a comida encontrada no lixo seria o almoço da família naquele
dia.
—
É o que temos hoje para alimentar as crianças e os adultos. Às vezes
nem isso temos, então não posso reclamar. Hoje é um dia bom.
Elcaleno
é responsável também por abastecer a família com água. Ele vai a pé
todos os dias na Esplanada dos Ministérios para encher os baldes, que
ele carrega em um carrinho de mão.
— É uma caminhada boa, dá pelo menos quatro quilômetros e não é sempre que consigo a água.
Água não dá para o banho
No
período de seca e calor, a família tenta armazenar água em todos os
locais possíveis para as crianças ficarem hidratadas a maior parte do
tempo. Dona Francisca afirma que, por conta disso, nem sempre é possível
tomar todos os cuidados com a higiene.
—
A água é pouca e não temos como gastar lavando as coisas. Guardamos do
jeito que dá e oferecemos às crianças, que brincam, correm e precisam de
água para matar a sede. Até banho aqui é complicado, fazemos isso só
quando temos muita água sobrando.
Depois
de brincarem bastante durante a reportagem, duas crianças apareceram e
também quiseram participar. Jéssica da Silva e Alessandra dos Santos são
primas e têm a mesma idade: sete anos.
Alessandra
é mais tímida e gosta de ajudar a mãe com a louça e varrendo a casa,
mas adora de brincar de bonecas, pique pega e pique-esconde com os
irmãos, amigos e primos, que vivem no mesmo local. Jéssica pensa no
futuro melhor e tenta mudar
o presente, mas não quer perder o brilho da infância. Ela contou que
tenta de todas as formas animar a vida dos pais e familiares para
amenizar a situação difícil que enfrentam.
— Eu só queria uma casa e uma vida decente para minha família.
Fonte: R7
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